quarta-feira, 6 de abril de 2011

O olhar do outro - parte 1

             Um belo pedido que os esposos devem fazer, para verem-se mutuamente no próprio olhar de Deus: "Senhor, mostra-me o esposo que tu me deste, como tu mesmo o vês!" Pedido essencial pois que ultrapassa toda humana sabedoria, com seus raciocínios manchados, desde a primeira queda, pelo "príncipe deste mundo".

O olhar de Deus ultrapassa o pecado e as trevas para descobrir toda a potencialidade espiritual do outro.

Ninguém é sem defeito mas a vida espiritual não nos quer estacionados em posições definitivas de julgamento: "Ele é assim. Ela tem tal caráter. Ele não muda nunca etc.".

Se Deus assim olhasse o homem, ele não teria a mínima possibilidade de mudança de direção, de arrependimento.

Muitas vezes uma pessoa olha a outra com olhar cheio de trevas, desprovido daquela luz incriada da graça divina. Olhar sem amor verdadeiro. Retrata o outro sempre com aquele chavão meio chantagista: "Está vendo como você é?" Tal procedimento não só dificulta qualquer mudança de vida como leva a pessoa a uma queda maior.

Quem julga no coração é um assassino espiritual, pois que disse Cristo: "Não julgueis para não serdes julgados, pois com o mesmo julgamento com que julgardes, sereis julgados" (Mt 7, 1-2).

Como é útil este mandamento para a vida espiritual, especialmente do casal! Onde há julgamento não pode haver vida espiritual autêntica. Quem julga separa-se daquele que morreu na cruz, dizendo: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" (Lc 23, 34).

O juízo temerário, sem dúvida, é o pecado mais difundido no mundo, o mais desconhecido, o mais devastador. Poucos dão-se conta dos seus atos de julgar, a tal ponto esta obsessão tornou-se neles uma segunda natureza.

Julgamento é paixão que mina casais em perigo. Se tal paixão revelar-se num casal e não for afastada e combatida por corações que se humilham e pedem pacificação a Deus, o casamento estará em grande perigo. Mas isto não acontece sem grande provação.

Lutar contra todo julgamento é combate de todo casal. O inimigo da Igreja e da humanidade usa desta arma para destruir a vida espiritual nas almas e dividir o que está unido, destruindo o casamento. Deus permite tais combates para a pessoa purificar-se, pela vitória da graça, dos elementos da natureza decaída e da visão de um mundo material cheio de seduções.

Julgamentos há muito sutis. Começam por não condenar diretamente mas constatando diferenças, idiossincrasias e originalidades que diferenciam do resto das pessoas. Não se colocar na linha do conformismo que faz parte da ilusão do mundo e do seu príncipe Satã, é já expor-se ao juízo daqueles cujo olhar mudano não é espiritual, pois que não purificado por Deus.

Texto retirado do livro "Uma só carne: a aventura mística do casal", de Michel Laroche.

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